Pequenas curiosidades inúteis

Enquanto navegava em uma rede social com o ícone vermelho usada tipicamente nos Estados Unidos, eu vi um post em que o garoto expressava em forma de meme, traduzido: "Sabe quando te chamam de inteligente só porque você têm um variedade de informação em tópicos diferentes, mas na realidade é tudo superficial e você não é suficientemente bom em nada". Eu achei válido começar esse texto apontando isso, porque, além de ser uma boa introdução, é com certeza algo que eu poderia ter escrito.

Por você ter lido um paragrafo assim num texto com esse título, já fica óbvio o que vêm daqui para frente. Ou seja, eu falhei em te surpreender, mas a culpa é inteiramente sua por ser tão astuto. A questão é que por mais específico que esse post tenha sido, eu me identifiquei com todas as palavras, principalmente "você não suficientemente bom em nada", quase como se eu o tivesse escrito (hmmm). Mas eu não estou aqui para quebrar esse pensamento e sim reforçar-lo com algumas pequenas curiosidades inúteis.

A Inglaterra vai ser invadida pelo inverno russo

(Anotação para o Arthur do futuro: clickbait é no título)

É verdade que a maioria esmagadora de leitores desse blog estuda no Elite, sendo assim, possuem um conhecimento de Geografia básica pelo menos 13x mais avançado que um estadunidense comum. E talvez já tenham estranhado o clima na Inglaterra ser daquele jeito apesar do paralelo* (obrigado pela correção, Paulo Bahia II).
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A resposta está na corrente que passa pelo Reino Unido e também o fenômeno de maritimidade, mas eu não estaria escrevendo se fosse só isso, nem teria pensado num título tão sensacionalista. O ponto é que todo esse ciclo está ameaçado pela catástrofe mais famosa, o aquecimento global. Se o aumento da temperatura média do nosso geoide favorito continuar a subir nessa escala, além do calor no Rio de Janeiro, existe a possibilidade do gelo na Groenlândia derreter e, com a súbita quantidade de água gelada no Oceano Atlântico, congelar a Inglaterra e esfriar toda costa Leste dos eua*, mas isso não é catástrofe.

Só isso já era bastante para acabar com essa parte (tendo em vista a minha ignorância astronômica em qualquer assunto sem ser História), mas durante a pesquisa, eu descobri outro fenômeno para desgraçar a vida de europeus que não gostam do frio, o Vórtice Polar (que é muito nome de personagem da DC). Porém, o texto vai ficar insuportavelmente longo se eu for escrever sobre isso, então, se você sentiu curiosidade, leia esse texto da revista Galileu.

Paris não toma vacina e está bem...  

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Mais sensacionalismo barato, porque isso não é Paris e sim Tianducheng, uma cidade chinesa projetada para ser uma réplica da cidade francesa. O problema é que ela foi construída para ser um conjunto residencial e falhou miseravelmente, porque tem o custo de vida médio muito mais caro do que a maioria das cidades chinesas.

Eu tenho um pouco mais para escrever sobre cidades fantasmas, mas seria uma overdose de geografia para um texto só, e eu quero escrever sobre num futuro próximo. Então fiquem com mais algumas fotos do único lugar que pretendo visitar na China.

Tianducheng, a cópia chinesa de Paris, permanece em grande parte desocupada anos após a construção — Foto: Liang zhen / Imaginechina/ AFP

(Não teve piadas com corona vírus e nem produtos xing ling porque era fácil demais)

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Evolução dos Xerpas e o povo dos Andes

Eu amo essa porque foi o meu primeiro vislumbre de que a evolução pode seguir vários caminhos para responder um mesmo problema. A adversidade em questão que une dois povos completamente distintos a terem suas mutações analisadas nesse texto, é a altitude absurda do Nepal e da Cordilheira dos Andes.

A Biologia é linda e nascer depois da explicação que dá ao ser humano o título de raça mais resiliente de todas é um sentimento bem gratificante. E com resiliente, eu quero dizer: existem seres humanos em quase todos os cantos da Terra (fora do planeta também), independente do clima, disponibilidade de água, fauna, flora e altitude, que é o foco desse texto.

A altitude é um problema seríssimo porque na medida em que subimos, a pressão diminui fazendo com que respiremos menos, na mesma proporção em que o ar rarefeito tem menos oxigênio disponível, uma tragédia completa para sedentários. Todavia, para compensar isso, humanos normais (lowlanders) aumentam a frequência respiratória e os batimentos cardíacos. Gerando problemas tipo: dor de cabeça, náusea, cansaço irritabilidade e, em casos mais sérios, edema pulmonar; que deve ser uma agonia sem fim.  

Nós que vivemos no nível do mar, quando vamos para lugares assim, depois de dias ofegantes, nosso corpo começa a produzir mais glóbulos vermelhos, espessando o sangue de uma forma que começa a  sobrecarregar o coração e obstruir os vasos sanguíneos. Mesmo com essa pequena adaptação, jamais teríamos a performance completa como aqui, independente do tempo.

(Uma apresentação aos Xerpas)

Povo tibetano que mora ininterruptamente no Himalaia à 3,5 - 4,5 quilômetros de altura. Famosos por guiarem e carregarem mochilas de europeus inúteis Monte Everest a cima. Como nessa foto. Difícil se acostumar com o fato de que existem pessoas que carregam mais de 100 KG subindo montanhas, eu sei.

Por meio de mutações aleatórias que se adaptavam melhor no ambiente, os tibetanos desenvolveram organismos com mais vasos sanguíneos nos músculos e vasos que estão sempre dilatados e por mais contra-intuitivo que isso possa ser, eles produzem menos glóbulos vermelhos do que nós e possuem uma quantidade consideravelmente menor de oxigênio no sangue, então para abastecer as células, eles tem uma taxa respiratória elevadíssima, por isso estão sempre ofegando.

Já os andinos, evoluíram de forma diferente, sua concentração de glóbulos vermelhos é muito maior e a pressão sanguínea é elevada nos pulmões, que permite um nível de gás no sangue mais eficiente para sobreviver nessa condições.

Para mim, o mais impressionante é que, mesmo com tantas diferenças, os dois grupos têm o metabolismo exatamente igual o nosso, sem nenhuma variação, e relativamente a mesma expectativa de vida.

Evolução é a minha parte favorita da Biologia e eu gosto muito de história, mesmo que incompleta já que tem mais um grupo de infelizes que vivem assim, mas o tamanho do texto já está me irritando.

Fontes





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